Um Ponto Oito

Letra

[John]

Dentro do meu carro
A estabilidade
Me faz acreditar
Que está tudo bem
Tudo em seu lugar

E logo me esqueço
Tudo tem seu preço
Aumento a velocidade
E atravesso a cidade
Sem pensar
Sem pensar
Sem pensar

Em mais ninguém
A não ser em quem gosta de mim
E esqueci numa curva que fiz
Tão veloz que o amor
Não morreu por um triz
Não morreu por um triz

Mas naquela estrada
Naquela madrugada
Acho que matei alguém
E no mesmo instante
Morri um pouco também

Fui até ao rapaz
Que ainda vivia
E vendo ele morrer
Sem saber o que fazer
Segurei sua mão fria

Vi que era pobre
Moço sem instrução
Cheirava a pinga barata
Uma aliança no dedo
Talvez fosse um ladrão

Ajoelhei-me ao seu lado
Me disse o atropelado:
Fiquei com a pior parte
De tudo o que é chamado
Civilização

Devolva este anel
Pra dona daquele bordel
Foi lá que eu roubei
Diga pro dono do bar
Que minha conta encerrei

Silenciou de repente
Gemeu como um cão
E sobre o asfalto quente
Seu sangue escorreu suavemente
Todo pelo chão

Olhei a cidade
Olhei pro meu carro
Voltei a correr
Pensei em fugir
Quis não mais viver

Quis não mais viver
Com mais ninguém
A não ser com quem gosta de mim
E esqueci numa curva que fiz
Tão veloz que o amor
Não morreu por um triz
Não morreu por um triz

Olhei a cidade
Olhei pro meu carro
Voltei a correr
Pensei em fugir
Quis não mais viver
Quis não mais viver
Quis não mais viver

Curiosidades

John: Tive uma idéia de fazer uma tradução de uma música da Suzanne Vega, mas não consegui porque as letras dela são boas demais, aí eu pensei: “vai ficar ruim”. São umas histórias bem compridas, umas letras meio Chico Buarque,sabe? (risos). Daí, resolvi fazer a minha própria história. Era um tema que estava na minha cabeça, pensava nele sempre que via um cara na rua mal, bêbado, caído, um cara atropelado. Tem uma frase na letra que é chave: ”fiquei com a pior parte de tudo o que é chamado civilização”.

Fernanda: Claro que 1.8 é uma música triste. Quando estou triste, escrevo música triste. Não tenho a menor vocação pra ser "porta-voz da alegria de mentira" como um monte de artistas faz por aí. "Tristeza não tem fim, felicidade, sim...".

John: Bem, 1.8 é metafórica, acho que o verdadeiro atropelamento ali é emocional... Mas o ponto de partida foi mesmo ver gente machucada, atropelada ou assassinada e ninguém nem ligar porque "era só um bêbado..."

Curta?! – Xande: A gente tentou fazer um curta com “um ponto oito”, só que é muito caro! Fernanda: Mas no show tem umas projeções, para dar vazão a nossa criatividade.

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