Toda Cura Para Todo Mal – 2005

Press Release

O Pato Fu é uma banda da qual se espera tudo. Não qualquer coisa, mas tudo.

Um bocado de tempo se passou desde o último lançamento. Quase três anos. Fernanda e John tiveram sua primeira filha e esse intervalo foi em grande parte dedicado a essa “produção”.

Então não custa nada lembrar: o Pato Fu é aquela banda de triunfos radiofônicos como Depois e paisagens emocionais como Canção Pra Você Viver Mais. Seus discos vão do experimentalismo pop de Ruído Rosa ao campeão de audiência Televisão De Cachorro. Seu MTV Ao Vivo tem a classe de um concerto de orquestra de câmara e ao mesmo tempo a festa de uma banda num clube lotado. É a única banda brasileira capaz de compor e gravar uma música em japonês e ainda transformá-la em hit, Made In Japan.

O que esperar desse novo disco? Toda Cura Para Todo Mal teve muito tempo para ser concebido. Canções inéditas que já se acumulavam desde o MTV Ao Vivo somaram-se às muitas compostas durante esse período. O CD foi todo gravado e mixado no estúdio que John e Fernanda tem em casa. O guitarrista assina pela primeira vez sozinho a produção de um disco do Pato Fu, avalizado pela co-produção dos álbuns anteriores e pela produção recente de vários discos colocados entre os mais elogiados e premiados do último ano, com destaque para Let It Bed, de Arnaldo Baptista. O Pato Fu sempre trabalhou com grandes produtores e engenheiros de som. Nesse trabalho, John mostra que aprendeu a lição dos mestres e dá um passo à frente, levando o tradicional encontro de eletrônicos/acústicos a um refinamento surpreendente. A banda soa viva como nunca, ao mesmo tempo em que as sofisticações tecnológicas alcançam um teor cada vez mais orgânico.

Em Toda Cura Para Todo Mal, Fernanda Takai mostra que atingiu sua maioridade como cantora. Leva o ouvinte pra onde quer. Faz todo mundo bater palmas e cantar Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!, pra depois engolir a emoção a seco em Sorte e Azar. Anormal, a canção que abre o disco é daquelas que vamos ouvir até cair e ainda vamos querer mais. Pop perfeito, vocais chocantes, timbres matadores, já nasceu hit.

Amendoim é daquelas em que todos da banda mostram os grandes músicos que são. Em especial aqui, Ricardo Koctus e Lulu Camargo (incorporado à banda desde o MTV Ao Vivo), baixo e piano numa cozinha arrepiante. Em Simplicidade o Pato Fu mostra que continua fazendo canções que ninguém mais conseguiria fazer: uma balada caipira-cibernética onde um robô canta uma moda de viola eletrônica. Tema perfeito para sítio com internet banda larga, com certeza.

Roberto & Erasmo dos bons tempos mandam lembranças em Agridoce. Linda canção, metáfora para sabores e amores, arranjo pungente que torna difícil a tarefa de não deixar correr uma lágrima furtiva. Clássico.

É em No Aeroporto que temos a chance de sentir a pegada jazz do baterista Xande Tamietti. Nem todas as bandas podem se dar ao luxo de fazer um arranjo como esse, simplesmente porque não tem um baterista à altura. Assim como Boa Noite Brasil, é uma canção que dá seqüência a uma verve de John como compositor de pequenas histórias, com início, meio e fim. Um tipo de construção que ele começou a explorar em Um Ponto Oito, do disco Isopor. Em Boa Noite Brasil, temos a única participação especial desse disco: Manuela Azevedo, vocalista da excelente banda portuguesa Clã. Ela e Fernanda Takai fazem um belo dueto contando as peripécias de um mal-humorado apresentador de telejornal.

Em Estudar Pra Quê?, Tudo e O Que é Isso? percebemos que a banda continua entortando e desentortando a música eletrônica e seus temas minimalistas. Diversão garantida. O mesmo se pode dizer de !, tema instrumental insano que mistura gritos de terror, manipulação eletrônica de aplausos e uma poderosa guitarra barítono numa levada indie.

Vida Diet se junta à Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié! no quesito “sonoridade feliz + letra virulenta”. Parece ser cada vez mais uma especialidade da banda compor estas canções em que temas afiados vêm em embalagens macias. Junte isso à voz de pé de ouvido de Fernanda Takai e o resultado é a música instigante, divertida e inteligente do Pato Fu.

No final de Boa Noite Brasil, um “la la la” se estende em clima de fim de festa, perfeito para um disco tão esperado. Valeu a pena a espera. A festa foi boa, que venham muitas mais!

Fernanda: É um disco de contrastes. Tem um lado extremamente pop, ao mesmo tempo busca novas estéticas musicais. Essa mistura é nossa essência.

Rescisão de Contrato e Produção Independente – Fernanda: Rescindimos o contrato em janeiro de 2004, por causa de uma outra proposta que acabou não se realizando, e gravamos o disco enquanto definíamos essa situação. Depois, só precisamos correr atrás da distribuição, que será feita pela Sony-BMG. A parte mais crítica, que era ter os meios para gravar, nós já tínhamos resolvido quando investimos no nosso estúdio. [Ref: Isto é Gente]

John: Saímos da BMG e recebemos o convite do Jorge Davidson para irmos para a EMI (Davidson atuou como diretor artístico da BMG durante quase todo o tempo em que o Pato Fu esteve na casa). Negociamos o novo contrato com a EMI e, com a caneta na mão para assiná-lo, Jorge foi substituído. Até conversamos com a nova direção, mas tudo tinha mudado, era uma outra linha de trabalho. (O grupo procurou então o diretor artístico da Warner). Começamos a conversar com o Tom Capone, que era um cara com quem já pensávamos em trabalhar. Mas, outra vez, quando estávamos às vésperas de assinar, aconteceu aquela fatalidade. (John acrescenta que, após a morte de Capone no ano passado, o grupo ainda ouviu propostas de outras gravadoras até optar pela produção independente). [Ref: Folha]

John: Construímos uma carreira sólida, e isso nos deixou mais confiantes em fazer o disco independente. Percebemos que não seríamos descartados tão facilmente, porque não precisamos de um hit para viver. [Ref: Isto é Gente]

Fernanda: Não importa como o disco vai chegar até o público. Queremos que todos saibam que fazemos tudo com total liberdade, sem qualquer interferência no nosso processo de criação.

Jabá? – Ricardo: Tem algumas coisas que são do mercado e a gente costuma brincar que são um mal necessário. Essa questão do jabá existe e é assim que as coisas infelizmente funcionam. A gente não sabe muito bem como ocorre, mas sabe que a máquina funciona. Fernanda: As bandas independentes se questionam se vale a pena ser independente enquanto quem está dentro de uma gravadora questiona quais são os prós e os contras. Do jeito que aconteceram as coisas durante a feitura desse disco, a gente conseguiu ficar com o melhor dos dois mundos, a autonomia, o cronograma, a cumplicidade entre a gente que acontece muito no mundo independente e, no final das contas, ter uma gravadora grande interessada em lançá-lo do jeito que a gente propõe, sem nenhum tipo de intervenção.

John, o produtor: "Sempre gostei muito de mexer com a coisa da tecnologia. Aprendi muito com os produtores com quem trabalhamos e, principalmente, com os engenheiros de som. Fiz este disco sozinho, eu mesmo mexendo nos botões. E fiquei muito feliz quando o pessoal da gravadora aceitou o disco como estava, sem mexer em nada. E ainda elogiaram a qualidade."

John: A gente teve um tempo de acabamento como nunca aconteceu antes. Estávamos sozinhos, mas com todo tempo do mundo. Em casa é uma beleza porque a gente mixa uma música, mixa de novo e, depois, mais uma vez. Na verdade, dizem que a mixagem não acaba, a gente é que desiste dela.

Sobre o processo de criação – Ricardo: Acho que foi o disco que tivemos mais tempo para produzir e isso foi fundamental para que as canções fossem trabalhadas o melhor possível. Ruído Rosa (2001), que muita gente acha o nosso melhor álbum, tem coisas na mixagem que me desagradam hoje em dia.

Fernanda: Eu fui a cozinheira, o Ricardo, o fotógrafo… Até como roadies trabalhamos. [Ref: Folha]

Ricardo: John sempre co-produziu os nossos discos. Desta vez, fez tudo sozinho. Além disso, todos participamos da feitura do CD. Eu, por exemplo, também fiz as fotos e a arte gráfica.

Fernanda: É o disco de que mais participei, no molde das canções, ou nos arranjos. Às vezes você grava com produtores tão bons que chega a pensar: "Não é possível, eu devo estar errada e ele certo". Dessa vez tivemos mais liberdade. Agridoce, por exemplo, mudou várias vezes. Alguém sugeria algo e a gente refazia sem pressa.

DVD de clipes

A idéia dos videoclipes – Fernanda: Música de trabalho nunca funcionou para a gente. Decidimos rodar um clipe para cada faixa do disco. Todo mês, um clipe novo, dirigido por um diretor diferente, estreará em nosso site. Oito já estão prontos. [Ref: Folha]

Fernanda: A nossa intenção era lançar todo os vídeos junto com o CD, mas alguns diretores se atrasaram. Agora a idéia é colocar um por mês no nosso site e talvez lançar uma edição que tenha o CD com o DVD.

Fernanda: Nossa única exigência foi que eles gostassem do Pato Fu, ri Fernanda.

Fernanda: Financeiramente, não é algo que nos dê retorno, então precisamos nos capitalizar de novo para uma empreitada dessas. Sai tudo do nosso bolso.

Fernanda: Ao fazer os convites, deixamos bem claro que não havia exigência nenhuma e eles estavam livres para fazer o que quisessem. Afinal, o grande barato dessa história era mostrar o vídeo como uma expressão do diretor, sem a necessidade de mostrar a banda. Somente dois diretores pediram para colocar a minha imagem no clipe, conta Fernanda, reforçando que o pato Fu se preocupou em promover clipes que agreguem valor e não sejam apenas peças de promoção.

John: Agora é possível fazer bons vídeos, mesmo com pouco dinheiro. Uma pessoa talentosa, com um computador bom e uma baita criatividade, faz sozinha em casa um clipe bem legal.

A consolidação de Lulu Camargo na banda

Ricardo: A gente queria um pianista de verdade porque isso ao vivo faz uma boa diferença. Procuramos explorar ao máximo essa coisa do eletrônico porque começamos assim, mas chega um momento em que existe um certo limite. Lulu é um ótimo pianista, tecladista, maestro e compositor. Agora, a gente traz a coisa da eletrônica e tem um setor criativo em plena atividade.

O Recesso e a Volta

Sobre o recesso – Fernanda: Tivemos uma parada totalmente pessoa e planejada. Com 12 anos de banda, era hora de respirar para outros projetos. O meu foi o nascimento de nossa primeira filha. Dei uma de Celly Campello, virei mãe e dona de casa por um tempo. Fernanda: Parece que eu vinha me preparando faz tempo para ser mãe. A experiência tem sido muito boa. Tanto que quero repeti-la num futuro próximo.

Fernanda: Parada mais programada do que esta, aos 12 anos de banda, seria impossível. Enquanto estávamos afastados da estrada e de aparições públicas, fomos construindo nosso oitavo álbum em nosso próprio estúdio. Outra gestação longa e feliz. Ao mesmo tempo, foram aparecendo notícias de que a banda tinha acabado, que eu tinha ficado louca, que resolvi me aposentar… Outro dia mesmo, durante um vôo, um moço me abordou, triste pelo meu retiro precoce da carreira. Nada disso! É possível ser mãe e jornalista, ser mãe e dentista, ser mãe e professora, hoje sou mãe e toco numa banda junto com o pai – o que é um tópico singular em se tratando de ausência/presença dupla.Claro que ainda não senti de novo o peso de entrar numa turnê puxada, passar semanas fora de casa, agora com filhinha a nos esperar. Mas a disposição para retomar todas as atividades com a banda é ainda maior neste momento. Não quero levar a criança para todo lado porque estar na estrada implica horários incertos, alimentação nem sempre confiável, acomodação variada e transportes nem sempre confortáveis. Não é o que eu chamaria de rotina saudável para alguém com pouco mais de 1 ano. Deixo aqui meu protesto para os que acham que ter uma carreira consistente é estar sob os holofotes o tempo todo. Mais do que alta visibilidade, é importante manter a qualidade de vida, fazer o nosso tempo e não seguir cronogramas de mercado. É o que estamos fazendo e acreditamos que essa seja uma boa fórmula de realização pessoal: adaptar o lado profissional ao cotidiano, e não o contrário. Assim continuamos a ser carne e osso, suor e lágrimas, seguros nas horas incertas!

Recomeçar - Fernanda: Sempre dá um friozinho na barriga. Por mais que façamos shows, que conheçamos os locais, toda vez que entramos no ônibus para pegar a estrada lidamos com inúmeras variáveis. Estava com um certo receio de voltar por causa das viagens. Cheguei à conclusão que somos uma banda de estrada. Faz falta para nós. Nossos shows são sempre muito bons.

Nina

Sobre Nina nas gravações – Fernanda: Nina é uma fofa. Ela muitas vezes ficava no estúdio com a gente, no colo dos tios do Pato Fu. Se pudesse, eu queria ter outro filho já, mas como vivo da música, não dá, né?.

John: Ela aparecia lá e já entrava rebolando. Um dia, desligou os botões no meio de uma gravação (risos)! Quando terminamos as mixagens, a levamos para o estúdio, para ver a reação dela. Em algumas músicas, ela começava a dançar feito uma louca, aí a gente falava: Essa música é boa, a Nina gostou . Ela era nossa testadora de músicas. [Ref: Isto é Gente]

Fernanda: O John se revelou um paizão.

Fernanda: Toma um tempo enorme ser mãe. Mas, no geral. Nosso cotidiano não mudou muito. Sou eu quem respondo pessoalmente os fãs. É um trabalho que me dá um prazer enorme e que quero continuar por muito tempo. Em casa o John domina mais a técnica, enquanto eu cuido mais da área humana.

Fernanda: Como temos estúdio em casa, foi bem tranqüilo. Fiquei gravando as vozes, dando palpite na produção e cuidando dela. O Xande, o Ricardo e o Lulu foram para Belo Horizonte, e eu não tive que sair para nada. Foi um esquema confortável para uma mãe de primeira viagem.

Sobre turnês - Fernanda: Antes passávamos semanas sem vir em casa, tipo quando a gente ia aí pro Nordeste ou pro Sul. Mas agora tenho que ir e voltar. Deixo a Nina com a minha mãe e uma babá, mas tenho que estar sempre presente.

Leia mais: Elefante Bu.

>>> LETRA A LETRA <<< - Tudo sobre as músicas desse álbum.

1. Anormal
2. Uh Uh Uh, La La La, Lê Lê
3. Sorte e Azar
4. Amendoim
5. Simplicidade
6. Agridoce
7. No Aeroporto
8. Estudar pra que?
9. Vida Diet
10. O que é Isso?
11. !
12. Tudo
13. Boa Noite, Brasil