Música de Brinquedo – 2010/2011

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Press Release

John Ulhoa

E se…?

O Pato Fu sempre levou a sério essa pergunta e sempre pagou pra ver. Dessa vez a pergunta foi: e se gravássemos um disco inteiro só usando instrumentos de brinquedo? Não um disco de música infantil, mas um disco de música “normal” filtrada por essa sonoridade.

A ideia pareceria absurda há poucos anos. No entanto, desde o CD Daqui Pro Futuro (2007) começamos a flertar com sons de caixinhas de música, realejos, pianos de brinquedo… Em algumas de minhas produções recentes usei muitos desses instrumentos, muitos comprados como presente à nossa (minha e de Fernanda) filha de 6 anos, mas que acabavam invariavelmente na frente de um microfone na sala de gravação do estúdio que temos em casa.

E tinha mais. Quase todos nós – e os amigos próximos – viramos papais e mamães nos últimos anos. A temática infantil passou a nos comover. Ao mesmo tempo, sentimos que seríamos capazes de fazer algo para pais e filhos que tivesse uma das características que mais gostamos na música: terem duas (ou mais) camadas de entendimento, um “Muppet Show” de carne, osso e música, diversão para os adultos, sem aborrecimento pros pequenos, e vice-versa.

Decidimos então gravar uma primeira música como um teste. Essa foi “Primavera”. Ficamos muito empolgados, parecia algo do tipo “por que não pensamos nisso antes!?”. Registramos em vídeo o processo, fizemos uma rápida edição pra mostrar pra alguns amigos. O efeito “sorriso estampado” que tínhamos na nossa cara apareceu instantaneamente na face das outras pessoas também. Chegamos à conclusão que não estávamos ficando loucos.

Isso faz mais de um ano, foi no começo de 2009. De lá pra cá, muito trabalho – e diversão. Um projeto como esse é mais complicado que um disco comum. A começar pelos próprios instrumentos. Não só são mais difíceis de se tocar, mas também de se encontrar. Nem todos os instrumentos de brinquedo são “tocáveis” e separar as tranqueiras das verdadeiras jóias é uma empreitada e tanto. Bastante pesquisa foi feita em lojas, oficinas artesanais e sites. Eu, por exemplo, em qualquer viagem que fiz nesse período, voltava com a mala cheia de cornetas de plástico, tecladinhos eletrônicos baratos e qualquer tipo de traquitana que pudesse fazer um som e tivesse um apelo infantil.

Outro fator estranho ao nosso método habitual de fazer discos foi o repertório. Estamos acostumados a ir juntando material inédito, novas composições, letras, melodias soltas ao longo de uma turnê, pra gerar um disco novo ao final. Isso nunca parou, e de fato temos um tanto de material que poderia ser justamente o ponto de partida para um novo álbum de inéditas (não, não estamos em crise criativa, antes que alguém pergunte…). Mas esses arranjos de brinquedo teriam um efeito muito mais potente se aplicados a canções conhecidas. Aí é que estava a graça, que ficou muito clara quando fizemos “Primavera”: colar essa sonoridade em clássicos do pop, recriar todas as frases melódicas de músicas que não fossem só conhecidas, mas que tivessem arranjos emblemáticos. O que procuramos é o prazer de ouvir velhas canções adultas em seus arranjos originais, tirados praticamente nota por nota, só que com instrumentos de brinquedo. E assim fizemos. Descobrimos quais seriam estas canções. Foi mais difícil do que a gente pensava.

Eram muitos os pré-requisitos que as candidatas tinham que trazer. Mas estão aí, e estamos muito orgulhosos de como ficaram ao final.

Por último, o elemento surpresa: a participação das crianças cantando. Bem, nunca se sabe o que uma criança vai fazer. Às vezes ela não faz o que você quer. E às vezes o que ela faz é muito melhor do que o que você queria. Não queríamos aquela sonoridade “coral de crianças”, e sim pequenas participações, marcantes e carregadas da inocência e desafinação pura de espírito que só as crianças conseguem. Acho que conseguimos, e foi um aprendizado e tanto.

E sim, o disco foi todo gravado com instrumentos de brinquedo ou miniaturas. Também foram utilizados instrumentos ligados à musicalização infantil como flauta, xilofone, kalimba e escaleta. Um cavaquinho foi usado como violão folk e também como baixo. O piano de brinquedo, o glockenspiel
de latão e o kazoo de plástico foram os reis do pedaço. Um tecladinho-calculadora Casio VL1 fez a alegria das crianças na faixa dos 40 aqui. Qualquer brinquedo valeu, seja de madeira, pelúcia ou eletrônico. Em uma ou outra raríssima ocasião, sampleamos o brinquedo para que fosse mais fácil
(na verdade o certo seria dizer “possível”) tocá-lo com alguma eficiência. E chegamos ao ponto de usar um reverb de mola de brinquedo para processar alguns sons. Tudo está gravado com suas imperfeições, afinação duvidosa e barulho de articulação de peças móveis. Se você prestar atenção – como um adulto – vai perceber. Ou apenas se divirta – como uma criança.

Foi um prazer fazer esse disco, esperamos que sintam o mesmo ao ouví-lo.

Belo Horizonte, maio de 2010.

Snoopy’s Classiks on Toys

Inspiração – Fernanda: A ideia de um disco como o “Música de Brinquedo” surgiu há muito tempo em 1996, inspirado pela audição de um CD da turma do Snoopy cantando Beatles acompanhados por brinquedinhos. Quando nossa filha nasceu em 2003, voltamos a pensar com mais força no disco, mas tínhamos acabado de lançar um CD ao vivo, comemorando 10 anos de estrada. Esperamos mais um pouco pra só então, aos 18 anos de carreira, mostrar às pessoas um disco assim. [Ref: Revista Leal Moreira 28]

Receptividade – Fernanda: Os shows estão sempre esgotados, gente de todas as idades, uma alegria estampada no rosto das pessoas o tempo todo. É bom saber que as pessoas se emocionam tanto assim com música pop de boa qualidade que tem uma estética sonora curiosa.

Renovar o público – Fernanda: Sim, isso é importante pra carreira da banda. Temos uma base de fãs que nos conhece há muito tempo, mas é sempre bom quando renovamos o público, trazemos mais gente pro nosso lado. Assim nossa expectativa de se fazer música a longo prazo continua firme. O mais legal da plateia do Pato Fu desde sempre é que é muito diversificada e isso se acentuou com o “Música de Brinquedo”.

John: É engraçado, porque dependendo do horário e local, praticamente só vão adultos! O que prova que realmente dessa vez bagunçamos o coreto… Percebemos também que estamos atraindo um tanto de músicos curiosos com o aspecto técnico do show. De toda forma, tocar pra essa platéia misturada de todas as idades é muito bom, o clima é muito feliz. E ao mesmo tempo continuamos fazendo nossos shows “adultos” normais também. Acho que agora estamos atingindo uma geração anterior à nossa, e umas duas gerações posteriores!

Repertório – Fernanda: Foi bastante intuitiva. Fizemos uma lista de canções pop de todos os tempos e origens. Escolhemos aquelas com as quais temos uma ligação afetiva. Claro que havia muita coisa pra filtrar… no fim ficamos com aquelas que foram 5 estrelas na votação interna da banda.

Fernanda: O primeiro clipe que fizemos foi da música Primavera, no começo de 2009, como um laboratório do que viria a ser o projeto. Não conhecíamos o Pomplamoose. Aliás, é diferente essa história. Nossos clipes estão mais pra making of descontraído do que pra uma montagem de “o que você vê, é o que está sendo gravado”, no espírito samples audiovisuais deles. Quando pensamos sobre o disco Música de Brinquedo pela primeira vez foi em 1996, depois de ouvir a turma do Snoopy cantando e tocando Beatles com instrumentos de brinquedo. Gravamos tudo de forma tosca, não tem luz, enquadramento ou fotografia esmerada como os deles. É mais desencanado. Colocamos a mão na massa durante a gravação do disco porque ninguém acreditaria que fizemos dessa forma se não estivesse registrado em vídeo. Como não tinha nenhum diretor por perto, fizemos sozinhos. [Ref: Música Pave]

DVD

Gravado ao vivo no Auditório Ibirapuera (SP) nos dias 09 e 10 de abril de 2011, como parte do programa Rumos Música Infantil, Itaú Cultural.

O Pato Fu está lançando o DVD/CD "Música de Brinquedo Ao Vivo". É o registro em show do repertório do CD gravado em estúdio em 2010, recheado de sucessos do universo pop, acrescido agora de versões "de brinquedo" de canções do próprio Pato Fu e outras surpresas. Se gravar todo um disco só utilizando instrumentos de brinquedo, miniaturas e coisas do tipo foi uma tarefa complicada, levar isso aos palcos parecia uma missão impossível. Os brinquedos quebram, desafinam ou simplesmente se recusam a funcionar na hora certa. Sem falar na dificuldade técnica de se tocar e até mesmo de se captar o som baixo que emitem. Mas aos poucos, foram aparecendo soluções para todos os problemas. Os brinquedos mais resistentes e "tocáveis“ foram ganhando espaço. Microfones foram sendo adaptados e outros músicos (Thiago Braga e Mariá Portugal) foram convidados, pois a banda não queria usar bases nem samples - tudo teria que ser tocado ao vivo mesmo. E o maior dos problemas teve a melhor solução: as crianças que cantaram no CD (que obviamente não poderiam entrar numa turnê junto com a banda) foram substituídas por dois monstros, dois "muppets" criados pelo Teatro de Bonecos Giramundo, de Belo Horizonte. O Giramundo é um grupo com um incrível repertório de peças e bonecos, criado há mais de 40 anos, com várias aproximações com o Pato Fu ao longo dos anos. E assim nasceram Groco e Ziglo, a dupla de vocalistas, manipulada pelos mesmos atores que fazem suas vozes ao vivo. Quantos brinquedos estão no palco? Já perderam a conta.

John: O MTV Ao Vivo é aquele tipo de registro ao vivo especialmente ensaiado e montado pra ser gravado, pra virar um disco de carreira, com “musica de trabalho”, etc… É como são feitos a maioria dos disco ao vivo hoje em dia. O Música de Brinquedo Ao Vivo é feito no estilo mais “old school”: um registro de uma turnê no seu auge. Eu gosto muito mais assim. Não sou um grande fã de discos ao vivo, mas acho que eles fazem mais sentido desse jeito. No caso desse disco, o aspecto visual é muito forte. Assim que fizemos os primeiros shows percebemos que era quase que uma obrigação nossa fazer um DVD, não podíamos deixar passar. E realmente não fizemos nada de diferente, mostramos o show como ele é. Ele já é bizarro o suficiente.

Mariá Portugal

Thiago Braga
Ziglo e Groco (Giramundo)

O Show / A Turnê

A complexidade - John: Eles se quebram, param de funcionar do nada, disparam na hora errada… Além de serem mesmo difíceis de se tocar. E também de se captar o som, pois têm um volume muito baixo. Fizemos um monte de gambiarras e testes com microfones pra aprender como fazer isso, e o resultado é espetacular, pois o que estes instrumentos têm de deficiência, eles têm em dobro em personalidade. E ao mesmo tempo, é um show que tem uma tolerância maior ao erro e à desafinação, não precisa ser perfeito, afinal é uma turnê de brinquedo. Mas quase toda passagem de som tem brinquedo sendo consertado…

Libarino, engenheiro de áudio: entrevista para site Musitec

No bumbo da bateria do Xande, por exemplo, diferentemente do que foi feito na gravação do disco, nos shows eu trabalho com o AKG D 112 em sua parte externa e com o AKG C 418 em seu interior. O resultado é um som mais vivo.

A caixa "milho" é captada por um AKG C 3700, e o bongô, que tem o som reproduzido por um pequeno alto-falante de celular, recebe um C 418, enquanto tons e pratos são captados por dois AKG C 3000. Como a caixa vaza muito no bongô, que fica exatamente abaixo dela, é preciso lançar mão de compressão em seu canal. "Um pouquinho de nada, só para segurar o ataque. O resto fica 'soltinho' mesmo.

Xande também toca dois objetos que são adaptados para soar como instrumentos. Um deles é um Pogobol, que tem um microfone de contato instalado em seu kick para soar a cada batida do músico. O outro é um enorme João Bobo, que faz parte do cenário do espetáculo. "Este elemento inflável recebe cerca de seis litros de água para soar ainda mais grave a cada baquetada do Xande, como se fosse um surdão de escola de samba. Ele também é captado por um microfone de contato, preso à meia-altura por uma fita especial.

O inibaixo de Ricardo Koctus, que usa um encordoamento semelhante ao dos baixos tradicionais, não passa por nenhum tipo de amplificação e segue em linha para o PA. Quando não está tocando o instrumento, o músico tira sons de uma minicalimba, captada por um microfone de contato plugado a um direct box ativo para valorizar os graves.

Em seu setup, Fernanda Takai conta com instrumentos de diversos tamanhos e origens. Há um violão acústico, que também usa um captador interno, uma caixinha de música, captada por um microfone de contato, e muitos brinquedinhos de sopro, como apitos, um saxofone MIDI, uma vaquinha que emite mugidos e um sapinho sonoro, todos captados pelo microfone de voz da cantora, um Shure SM87 Beta A.

John é, dentre os músicos, o que toca um número maior de instrumentos. No show, ele usa uma miniguitarra, um miniviolão e um cavaquinho. Todos esses instrumentos passam por sua pedaleira, composta por diversos pedais de efeitos, e, principalmente, pelo pedal Fishman Aura, que, de acordo com Libarino, simula microfonação de instrumentos de corda.

O Aura dá um 'corpo', um volume interessante no som destes instrumentos, que, por serem miniaturas, soam menos do que os instrumentos tradicionais. Mas o mais interessante de tudo é que o pedal gera até microfonia nesses mini-instrumentos.
Outros "brinquedinhos" utilizados pelo músico, que usa um AKG C 900 para cantar e se comunicar com a plateia, são o drawdio, um lápis que tem um circuito de teremim acoplado a seu corpo; uma cobra de plástico, que emite sons ao ser rodada no ar; uma pastorinha, que faz barulhos similares aos de uma espaçonave, e, claro, muitos apitos.

O tecladista Lulu Camargo usa, basicamente, um minipiano de armário, de três oitavas, que é captado por um AKG C 414 posicionado em sua parte traseira, e uma escaleta, também captada por este microfone, já que é posicionada no tampo do piano. Dentro da caixa do piano há, ainda, um Shure SM58, que ao ser mixado juntamente com o 414, chega a 20% no PA. Em alguns momentos do show, Lulu usa um metalofone, que, por sua vez, é captado por um AKG C 1000.

Convidados para acompanhar o Pato Fu na estrada, os músicos Thiago Braga e Mariá Portugal têm à disposição o que Libarino chama de "mesa de atividades". Nela podem ser encontrados xilofones, escalenas, miniacordeons, saxofones, ukelelês e apitos, entre muitos outros instrumentos.

Um microfone AKG C 480 serve ao xilofone enquanto um SM58 capta os apitos tocados por Mariá e um C 1000 capta o sax de Thiago. Um bumbo de bateria, que foi transformado em um tambor, é tocado pelos músicos. Ele é captado por um microfone de contato, assim como outras calimbas. Já os C 418, de clamp, servem a diversas peças, entre elas um pequeno elefante que emite sons, um carro de polícia e um bongô. Além dos bibelôs, a dupla usa três teclados em miniatura ligados em linha.

Ao fundo do palco, escondidos em parte do cenário, dois manipuladores de marionetes fazem vozes de apoio, usando, para isso, headsets. Um deles, inclusive, toca uma pequena zabumba, captada por microfones de contato ligados a um DI ativo.

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