Daqui Pro Futuro – 2007

Press Release

Nono disco. Para a alegria geral da nação, o Pato Fu continua acreditando que a ordem do dia é criar, criar, criar. São 12 canções sendo 11 inéditas, e muita elaboração. Sem preguiça, sem acomodação, e mais independentes do que nunca.

A produção ficou, como no disco anterior, a cargo de John Ulhoa, guitarrista/compositor da banda. Gravado e mixado no estúdio que John e Fernanda Takai tem em casa, esse álbum é uma espécie de experimento de até onde pode ir a tecnologia dos estúdios baseados em computador, no intuito de produzirem música orgânica e não-mecânica. Tudo que se ouve foi gravado pelos 5 integrantes da banda, dos instrumentos modernos a medievais. Claro, sempre com a juda de samplers e outras maquininhas, como já é de praxe do Pato Fu. As pistas estão em toda parte. Sons da música mecânica mais primária como realejos e relógios estão presentes. Timbres de sequenciadores primitivos, baterias eletrônicas antigas, dos primeiros sintetizadores analógicos. A capa já nos dá a dica: um monstro eletro-orgânico-mecânico toca discos de vinil, produzindo borboletas. O Pato Fu em seu estúdio se tornou um pouco assim, usando tecnologias de ponta pra gerar sons simples e antigos, e gerando texturas complexas a partir de timbres básicos.

“30.000 Pés” abre o disco, uma canção-de-estrada, só que de avião. Um slide em violão de 12 cordas logo na introdução é um som incomum pro Pato Fu. Uma de caixinha de música (um dos tipos mais antigos de música sequenciada), sintetizadores, bateria pesada, baixo potente. A voz de Fernanda bem colocada como sempre. Pato Fu 100%. “Mamã Papá” (parceria de Fernanda, John e Rubinho Troll) faz a alegria dos que esperavam que o disco anterior tivesse alguma música dedicada à filha, então recém-nascida, de Fernanda e John. Não tinha. Mas agora vem essa música recheada de brinquedos e ultra-dançante num raro momento “álbum de família” do casal.“Espero” é daquelas que mostram a liberdade artística que essa banda conquistou ao longo dos anos. Numa banda pop/rock, um arranjo que é só harpa, quarteto de cordas e programações. Em seguida “Cities in Dust”, clássico dos anos 80 da banda Siouxsie and The Banshees. É a única cover do disco, um achado na melhor tradição patofuniana de entortar versões de uma maneira única. “Tudo Vai Ficar Bem” é a canção que conta com uma participação especial: a colombiana Andrea Echeverri (do grupo Aterciopelados) que ajudou a compor e a cantar essa salsa “ao avesso” que tem letra em português e espanhol. “A Hora da Estrela”, primeira música composta ao piano por John, é delicada em seu tema e sonoridade. A bateria quase sempre poderosa de Xande Tamietti aqui se torna o acompanhamento sutil que a canção pede, deixando espaço para o baixo lindamente melódico de Ricardo Koctus. Tudo muda com “Woo!”, uma disco punk de fazer o chão tremer, baixo distorcido e teclados oitentistas. John e Fernanda cantam juntos essa canção que tem versos como “tranque essse cubículo por fora…”que não deixam dúvidas: é um surpreendente convite aos indecisos para que “saiam do armário”. “A Verdade Sobre o Tempo” é a canção do envelhecimento e da relatividade do tempo. Guitarra slide, baixo acústico, ambiente caseiro, belo e nostálgico. “Quem Não Sou” é como um mantra, voz com efeitos e teclados remetendo a clássicos da música eletrônica como Kraftwerk e Gary Numan, cortesia de Lulu Camargo. Uma cítara é o toque de classe no final. “Vagalume” mantém o clima, num arranjo de violão de cordas de nylon e programações que remetem aos timbres de Raymond Scott, um dos pais da música eletrônica. A surpresa é a presença do som de um Hurdy Gurdy, um instrumento medieval pouquíssimo usado, principalmente na música pop. Em “Nada Original” Fernanda canta os tormentos da convivência diária. Piano elétrico e base marcada, timbres muito bem sacados de guitarra. E o disco se encerra com “1000 Guilhotinas”, crônica melódica sobre a guerra e seus soldados, com um surpreendente momento em que se ouve um arranjo de orquestra de Casiotone VL1, talvez o primeiro sintetizador-calculadora de bolso do mundo. Essa banda sempre entrou em estúdio para servir à música. Dar a ela o que acreditam ser o que cada canção merece, sem se importar com rótulos. Nesse disco o Pato Fu encontrou esse ponto no qual melodias e composições se tornaram um foco. É um álbum em que a urgência e energia cedem um pouco de espaço pros timbres e harmonias. Sinal dos tempos, talvez? É o reflexo dos quase 15 anos de uma banda? Daqui pro futuro, é o que veremos…

Entrevista do John para Audioclicks

Quais foram as grandes diferenças de equipamentos do disco anterior para esse?
No Toda Cura Para Todo Mal, nós usamos um Mac G4, gravando no Logic Pro 7 e usando as interfaces TDM da Digidesign. Para o disco novo, o sistema foi trocado para um G5 com uma interface Motu 24, mantendo o LogicPro 7. Na verdade, eu me recuso a entrar nessas batalhas de software e de sistema operacional, eu uso o que for necessário pra fazer o que eu quero fazer!

Para gravação de guitarras, o que você usa?
Eu sou um guitarrista sem amplificador há muitos anos, nunca tive essa atração por som muito alto, tenho essa coisa de produtor, de querer ouvir a banda toda, o que os outros instrumentos estão fazendo. Então eu prefiro usar os plugins. Mas eu entendo o que muitos guitarristas sentem falta quando tocam assim, a pressão sonora e o vento no cabelo. Você nunca vai ter essa sensação na frente de um monitor de estúdio.

Antes eu usava o TDM Amp Farm. Esse e outros plugins de guitarra são bem legais, mas agora estou usando o Waves GTR, que é o melhor som de guitarra que eu já toquei, incluindo amplificador. Ele vem com uma interface da PRS (Paul Reed Smith, famosa fabricante de guitarras de alta qualidade) que é um casador de impedância, um direct inject box escrito “PRS” em cima. Não sei se metade da qualidade do som é efeito placebo por causa do “PRS”, mas eu gosto muito do som desse equipamento! (risos)

Nesse disco, eu usei em quase todas as músicas uma Variax 700, da line6. Ela emula umas 25 guitarras e é a minha cara, eu adoro ela. A única faixa que eu gravei com outra guitarra é a última do disco, porque eu toco e-bow nela e como a Variax não tem captador convencional, o e-bow fica constante, sem aqueles harmônicos dele quando se chega perto do captador.

Como você gravou os vocais da Fernanda Takai?
Eu uso já tem um tempo o AKG c414 para a voz dela. É um microfone que eu gosto muito pra voz da Fernanda. Ela grava muito baixinho, bem perto do microfone, e ele pega muito a respiração, o som da articulação. A voz da Fernanda é boa de se ouvir como se fosse no pé da orelha, com pouco reverb, muito timbre de pertinho, e esse microfone é muito legal pra fazer isso. Do microfone, vai para um Avalon VT-737SP, que é um pré-amplificador muito legal. Nele, eu esquento apenas um pouquinho, dou uma equalizada e comprimo levemente.

Pra mim, entrou no computador não sai mais. Então todo o resto é lá dentro: No canal de voz da Fernanda geralmente tem um Renaissance Channel, da Waves, o PSP Vintage Warmer e dois De-essers da waves. A Fernanda tem uma voz muito particular, a freqüência dos “S” e dos “J” dela é baixa. Eles aparecem muito, então são dois de-esses: Um funciona de de-esser e o outro de “de-joter” (risos).Os S dela são na faixa de 5KHz, quando normalmente são de 6 pra cima, as vezes até 8, então como ela canta muito perto do microfone fica às vezes muito agressivo. Depois, claro, vêm os processamentos, os reverbs, as coisas malucas etc

Algum segredo para nos contar no tratamento de voz?

Uma coisa que eu curto muito nos vocais é a automação. É algo que pode tornar uma trilha muito expressiva se você cuidar das entradas e das saídas das vozes. Se você subir sua automação de voz no final das notas sustentadas, dá para pegar melhor a expressão do fim das frases, é muito legal. Muitas vezes é um trabalho imenso, mas compensa. É diferente de usar muita compressão para isso acontecer, por que usando muita compressão você consegue esse efeito, mas o resto fica todo achatado… o que pode ser bom também, depende do que se quer fazer! Mas se o objetivo é ter uma voz sem muita compressão e que tenha esse efeito, tem que escrever muita automação, mas fica muito legal, pois aumenta a inteligibilidade da voz sem aumentar o volume geral.

E nos outros instrumentos, o que acontece?

O baixo é muito simples, o Ricardo (baixista do Pato Fu) liga direto no Avalon e acabou. Nesse disco nós usamos muito o akoustic, da Native Instruments, que é um instrumento virtual de piano. Ele tem uma biblioteca de sampler gigantesca, que tem um som de piano maravilhoso. Antes dele, eu usava outros instrumentos virtuais, mas achava que o som não era bom o suficiente para se sustentar sozinho, eu tinha que esconder um pouquinho, colocar com um efeito de rádio, coisas assim. O Akoustic eu gravo como se fosse um piano acústico e é ótimo!

E a bateria?

Eu uso muito som de sala, muito. Normalmente eu microfono a bateria toda, mas uso os mics de tom, surdo e pratos mais para dar um destaquezinho, porque no final o que eu acabo usando mais é o som da sala. Para mim, sem o som da sala uma bateria microfonada soa muito artificial, não parece com o som que eu ouço de uma bateria quando estou na frente dela. O Xande (baterista do Pato Fu) tira um som realmente bom das peças, ele tem uma pegada incrível, e eu gosto muito do som da sala do meu estúdio. Atualmente eu uso um par cd AKG c414 na sala, para captar a ambiência. No bumbo, eu uso um Eletrovoice bem clássico, que pega bem o som da pele.

O que vai insertado normalmente nas suas mixagens?

Eu uso quase sempre um reverb do Logic Pro que chama Space Designer, que é um convolution espetacular, na minha opinião melhor do que muitos hardwares famosos. No Bus da bateria eu uso quase sempre o PSP VintageWarmer. Mesmo quando ele não fica muito evidente já é legal, ele dá uma apertada no som. Quando vc quer a voz com um pouco de drive, ele também funciona muito bem. Eu uso de vez em quando um compressor grátis da SSL que é muito legal, pra fazer sons estranhos, bizarros, ele funciona bem, é exagerado.

Como você pensa o espaço sonoro? O disco novo tem uma espacialidade bem mais definida…

São coisas que eu vou aprendendo aos poucos, como colocar as coisas em estéreo, esses problemas de mixagem. Acho que o que melhorou um pouco a sensação de estéreo é como eu estou colocando a voz, acho que as outras coisas não mudaram tanto. Desde que eu comecei a utilizar o Space Designer isso melhorou bastante, ele tem umas salas muito curtas, que são muito boas pra colocar uma espécie de efeito básico – antes de se tornar um reverb mesmo – que dá uma espacializada na voz. Eu tentei fazer da voz desse disco algo muito presente, a voz não é mono. Vc já escuta a voz num plano um pouco aberto. Ela não está no centro, já está um pouco distribuída antes de qualquer reverb. É aquele timbre pé de orelha, mas ao mesmo tempo tem um estéreo bacana, apesar de soar quase como um mono. Isso colabora bastante com essa espacialidade da sua pergunta.

E sobre masterização, como você procede?

Dizem que a regra de ouro sobre finalização é “nunca masterize seu próprio disco”. Eu acredito! Às vezes eu até faço master em casa, mas quando existe orçamento pra fazer fora eu faço, porque você acaba cometendo mais do mesmo erro feito na mixagem. Se alguém tem a tendência a mixar puxando pro agudo, por exemplo, a masterização vai sair mais aguda ainda! Você põe mais daquilo que você acha que está certo, e provavelmente é seu erro que você acaba aumentando.